1 – Evolução e declínio da floresta da Padela no último século
1.1 - Floresta original
As áreas mais elevadas da Padela não deveriam ter sido muito arborizadas. Seriam caracterizadas por espaços abertos onde predominariam algumas espécies arbustivas, tais como: o tojo - Ulex europeaus, a urze - Colluna vulgaris, a giesta - Cytisus scoparius, o sargaço – Cistus monspeliensis/Cistus psilosepalus, a sargaça - Halimium alyssoides, carqueja - Pterospartum tridentatum, etc.
Devido à sua excelente rede hidrográfica com dezenas de linhas de água que irrigam os solos a caminho dos seus principais regatos (Requeirão da Padela; Rio Covo; Regato de São Paio; Rego de Cão; Regato dos Reis Magos) este espaço era também ocupado por grandes áreas de prados utilizados para pastos. Aliás, há documentos onde consta que estes planaltos (Vacaria, Agros, Valinhas, etc) já eram explorados para pasto do gado pertencente aos monges Beneditinos do Convento de Carvoeiro, e cuja abundância era tal que alugavam alguns espaços aos povos dos lados do Soajo e Galiza (Paulo de Passos Figueiras in Couto de Carvoeiro/ Monografia - 2000).
A floresta original da Padela que envolvia estes espaços mais abertos deveria ter sido tipicamente ibérica ainda com alguma influência mediterrânica, constituída maioritariamente por algumas espécies de quercíneas (carvalhos - Quercus robur/Quercus Pyrenaica e sobreiros - Quercus suber); castanheiros - Castanea sativa; oliveiras - Olea europaea; medronheiros - Arbustus umedo; intercaladas com algumas espécies de pinheiros (pinheiro silvestre - Pinus sylvestris, pinheiro bravo - Pinus pinaster e pinheiro manso - Pinus pinea) e com tojos - Ulex europeaus que serviam para regenerar e “prender” os solos, criando assim as condições necessárias para o desenvolvimento das espécies de maiores exigências (quercíneas).
1.2 - Declínio da floresta
Ao longo dos tempos e, principalmente a partir do início do século XX, com a introdução do eucalipto branco - Eucalyptus globulus, de origem australiana, que foi importado com o objectivo de drenar terrenos pantanosos, e a intensificação da produção massiva do pinheiro bravo - Pinus pinaster, (espécie nativa), para fins puramente comercias e por serem espécies de desenvolvimento rápido, a nossa floresta foi sendo descaracterizada e degenerada. Por exemplo: um pinhal era plantado e abatido muito antes que as outras espécies se desenvolvessem, as quais necessitavam da protecção do seu coberto vegetal e do seu substrato, sendo, aliás, muitas vezes arrasadas para plantação de um novo pinhal ou floresta mista (pinheiro/eucalipto) ainda maior.
Durante o Estado Novo, Salazar implementou um programa de reflorestação muito interessante, repovoando vastas áreas do pais, das quais ainda hoje se podem ver os últimos redutos, pertencendo os mais importantes ao Parque Nacional da Peneda/Gerês/Soajo. A Padela também foi abrangida por esse programa (vertente Sul e Este) tendo-se mantido praticamente intacto até às décadas 1970/80. Para além das quercídeas existentes (sobreiros/carvalhos), este espaço tinha uma rica floresta mista com espécies como: pinheiros - Pinus sylvestris, Pinnus pinaster, Pinus pinea (vertente Nordeste - Chã do Castelo); vidoeiros/bétulas - Betula
celtiberica; carvalhos nórdicos - Quercus rubra; cedros-do-oregon - Chamaecyparis lawsoniana; etc. No entanto esta floresta pecava pela concentração excessiva de resinosas mas, como havia uma boa manutenção e vigilância, teve bastante sucesso.
A partir da década de 1980 foi o descalabro total. Com a falta da tal vigilância/manutenção, os consequentes e sucessivos incêndios e a falta de políticas de reflorestação, aquela floresta foi sendo substituída pela nossa maior infestante nativa, a giesta-das-vassouras - Cytisus scoparius (que actualmente atingem porte arbóreo), pelos matos, por mimosas (vertente Sudoeste - Mujães), por acácias (austrálias) (vertente Sul) e por plantações massivas de eucaliptos (vertente sudeste – Balugães/Vitorino Piães), com a consequente desintegração e degeneração dos solos férteis.
Desta floresta só restava uma pequena área na vertente Este, já no início da encosta de Vitorino de Piães, visitada na última caminhada de Julho deste ano (2010), organizada pela Associação Padela Natural, acabando por arder poucos dias depois.
2 - Reflorestação
Seria muito interessante pensar na reflorestação da nossa montanha com o objectivo de lentamente se recuperar a antiga e bonita floresta portuguesa/ibérica. Nesse sentido, a “Padela Natural – Associação Promotora”, sugere que, como base, e aproveitando a já existente e excelente comunidade de sobreiros, se parta para a ideia de uma floresta mista maioritariamente com espécies de folha caduca (2/3), acrescentando outras quercíneas, intercalando com as três espécies de pinheiro (1/3) e, muito pontualmente, introduzir o tal cedro de Oregon que combina muito bem neste tipo de floresta. Não convém ultrapassar a proporção de 1/3 de espécies resinosas porque, embora necessárias para o tal coberto vegetal protector e sustentação dos solos, em caso de incêndio, são uma autêntica “bomba”, quando em grandes comunidades.
Poder-se-ia aproveitar para recuperar espécies, das quais algumas terão existido na nossa região muito residualmente, sendo outras mais ou menos dominantes em regiões não muito distantes da nossa, tais como: carvalho negral - Quercus pyrenaica (Beira Interior/Trás-os-Montes); carvalho português - Quercus faginea (Litoral Centro); azevinho - Ilex aquifolium (nativa - em declínio); salgueiro branco - Salix alba (nativo - residual); teixo - Taxus baccata (Gerês – quase em extinção); azereiro ou gingeira-brava - Prunus lusitanica (quase em extinção - dominante na nossa região durante o Terciário, é considerada uma autêntica relíquia da floresta laurissilva).
Taxus baccata Prunus lusitanica
Depois do exposto, e na nossa modesta opinião (de leigos), uma floresta bem equilibrada, “importando” uma ou outra espécie para criar maior diversidade, seria baseada no seguinte lote de espécies, seleccionando-as por forma a escolher os locais de plantação que melhor se adaptem às suas características:
2.1 – Floresta base
Quercus robur – Carvalho alvarinho
Quercus pyrenaica – Carvalho negral
Quercus faginea – Carvalho português
Quercus suber – Sobreiro
Castanea sativa – Castanheiro
Arbustus unedo – Medronheiro
Pinus sylvester – Pinheiro de casquinha ou silvestre
Pinus pinaster – Pinheiro bravo
Pinus pinea – Pinheiro manso
Chamaecyparis lawsoniana – Cerdro-do-oregon – (pontualmente)
2.2 – Junto às linhas de água (espécies ripícolas)
Alnus glutinosa – Amieiro (cota max. 150/200 m)
Frangula alnus – Amieiro negro
Salix atrocinerea – Salgueiro negro – (abundante)
Salix alba – Salgueiro branco
Salix fragilis – Salgueiro frágil - (vime)
Fraxinus angustifolia .- Freixo
Populus nigra – Choupo negro
Populus tremula – Choupo tremedor
Sambucus nigra – Sabugueiro
Nota: A maioria destas espécies pode ser reproduzida por estacaria.
2.3 – Vales mais profundos e férteis
Ilex aquifolium – Azevinho
Laurus nobilis – Loureiro
Prunus lusitanica – Azereiro ou gingeira-brava
Taxus baccata – Teixo
Coryus avellana – Aveleira
Bétula celtibérica – Vidoeiro ou Bétula
2.4 – Planaltos e bermas dos caminhos/trilhos
Estes espaços são geralmente os mais frequentados para lazer sendo também constituídos por terrenos mais férteis (Stª Justa, Valinhas, Chão da Rita, Agrela, Srª do Crasto, Alto dos Marcos, etc). Por isso poder-se-ia “reforçar” a floresta base (2.1) com algumas espécies que dessem um pouco mais de colorido nas épocas menos vistosas (Outono/Inverno), por exemplo: algumas espécies de Acer (com as suas folhas multicolores durante o Outono) e de Prunus (que exibem as suas flores no final do Inverno). Além do mais, quase todas as espécies abaixo designadas dão frutos e bagas que são muito apreciadas por uma grande variedade de espécies de aves, contribuindo assim para o seu repovoamento e aumento da biodiversidade.
Seria também uma mais-valia a arborização, numa largura não inferior a 5 metros, da maioria das bermas da excelente rede de caminhos e trilhos existentes, pois, por não serem resinosas, funcionariam como reforço aos “corta-fogos”ao retardarem as chamas.
Acer monspessulanum – Zêlha
Acer pseudoplatanus – Plátano-bastardo
Bétula celtibarica – Vidoeiro/Bétula
Quercus rubra – Carvalho americano – (pontualmente)
Prunus spinosa – Abrunheiro-bravo
Prunus avium – Cerejeira
Prunus mahaled – Cerejeira de Santa Lúcia
Prunus padus – Azereiro-dos-malvados ou Pado-do-Alvão
Prunus cerasifera – Ameixeira dos jardins
Pyrus cordata – Periqueiro ou Espinheiro
Crataegus laevigata – Pilriteiro
Celtis australis – Lódão-bastardo
Populus tremula – Choupo tremedor – (zonas mais húmidas)
3 – Áreas de lazer e desporto
3.1- Parque “Padela Natural”
Este espaço contemplaria o já existente “Parque de Valinhas”, a Casa do Guarda florestal e espaço envolvente (Carvoeiro) e a área do Chão da Rita (baldios de Barroselas).
Aproveitando o excelente trabalho de reflorestação que tem vindo a ser implementado há alguns anos por parte dos dirigentes dos baldios de Carvoeiro; o facto de a Casa do Guarda Florestal estar envolvida num projecto de requalificação onde está previsto o funcionamento de um “Centro de Interpretação Florestal” e cuja área envolvente tem uma das maiores e bem conservadas comunidades de sobreiros – Quercus suber – do Vale do Neiva ou até do Minho; e intervencionando a área dos baldios de Barroselas (Chão da Rita) no sentido de se reflorestar, à semelhança do referido Parque de Valinhas, conseguiríamos um excelente parque com uma área considerável e que traria uma grande mais-valia à nossa região, bem como ao projectado “Centro de Interpretação Florestal”.
3.2 - Parque de merendas “Chão da Rita”
Conforme mencionado no ponto anterior, este espaço denominado Chão da Rita fica encostado à área dos baldios de Carvoeiro (lado poente) e é gerido pelo Conselho de Baldios de Barroselas. Os seus dirigentes já manifestaram vontade de ali projectarem um parque de merendas servido por uma via de comunicação que se abriria a partir da Capela da Srª da Conceição que se encontra a 300 metros mais abaixo, a Sul.
Há necessidade de incentivar esta ideia pois pensamos que seria o local ideal para utilizar como ponto de partida para os diversos percursos a sugerir na nossa proposta, incluindo todo o espaço envolvente do referido “Parque Padela Natural”.
3.3 – Trilhos
A Padela tem uma excelente rede de caminhos e trilhos florestais, com razoável estado de conservação, cuja manutenção (limpeza da vegetação) se deve aos nossos amigos Sapadores de Carvoeiro. Estas vias percorrem toda a Serra desde Mujães/Portela de Suzã a Vitorino de Piães e do Vale do Neiva ao Vale do Lima, proporcionando aos praticantes de pedestrianismo e BTT uma enorme variedade de opções. Não pondo de parte outras alternativas poderíamos “marcar” as seguintes:
3.3.1 - Trilho da Padela
Este trilho, que já foi percorrido este Verão pelos elementos da Padela Natural, teria início e chegada no proposto “Parque de Merendas Chão da Rita” numa extensão de +/- 20 km e percorreria toda a espinha dorsal da Padela, no sentido Oeste/Este. Neste percurso pretende-se englobar o máximo de pontos de interesse desta montanha: as estações arqueológicas da Padela e Alto dos Mouro, Parque de Valinhas, Alto dos Marcos (ponto de partida do Down Hill), marco geodésico da Pena Ruiva, Capela de Stª Justa, aldeia da Vacaria, Capela Srª de Lurdes, Pico da Padela (Bouças – 485 m altitude), Penedo da Coxa (esculturas da Maria da Pomba), represa dos Carvalhos (Regato São Paio – Carvoeiro) e Srª da Conceição.
3.3.2 – Trilho da Vacaria
Este trilho, com uma distancia de +/- 8 km, teria como objectivo recuperar os antigos caminhos pedonais que os habitantes da aldeia da Vacaria percorriam para irem à feira de Barroselas, à missa no Convento dos Passionistas e para o centro de Carvoeiro, nomeadamente para enterrar os mortos. Teria partida e chegada também no proposto “Parque de Merendas do Chão da Rita”. A primeira parte do percurso seria feita com orientação norte, atravessando toda a encosta Sul, parando a meio para apreciar a vista panorâmica que um evidente afloramento granítico existente mesmo ali ao lado do trilho, proporciona sobre o vale, com destino à aldeia da Vacaria. De regresso propõe-se o antigo caminho para Carvoeiro, com a orientação Sul, até interceptar o Requeirão da Padela, o qual se acompanharia descendo pela margem esquerda até ao Alto dos Mouros, e daí regressar ao ponto de partida passando pelo “Parque de Valinhas”. Pode-se vir a ponderar fazer este percurso no sentido inverso por ser mais suave.
3.3.3 – Trilho da Srª do Crasto
O objectivo deste percurso, com cerca de 12 km, seria promover o trabalho de organização dos espaços naturais desenvolvido pela junta de freguesia de Portela de Susã, nomeadamente a implementação de um acolhedor parque de merendas, “Parque Souto da Torrente”. Assim, com partida e chegada deste ponto, e em direcção ao Alto dos Marcos, interceptaríamos o “Trilho da Padela” que percorreríamos até à aldeia da Vacaria, passando pela Capela de Stª Justa, continuando depois em direcção à aldeia de Agros, Capela da Srª do Crasto, regressando a Portela de Suzã e ao ponto de partida.
3.3.4 – Trilho da Carmona
Este percurso seria uma forma interessante de unir a nossa montanha ao Rio Neiva e ao seu vale indo um pouco ao encontro com a nossa história. Se não vejamos:
Partindo do Convento dos Passionistas em direcção ao Lugar das Boticas e caminhando cerca de 5 km através da antiga Via Medieval, passar a Ponte Medieval das Boticas, Ponte Real (Durrães), Ponte do Morgado (Durrães), Ponte Nova (Carvoeiro), Mamoa da Bouça da Mó (Carvoeiro), Ponte das Tábuas (Balugães), Srª Aparecida (Balugães), estação arqueológica da Carmona (Carvoeiro/Balugães), Convento Beneditino (Carvoeiro), Capela de Santa Ana (Carvoeiro) regressando ao ponto de partida por entre os campos das agras de Carvoeiro. No decorrer deste trilho poder-se-á visitar oito edificações ligadas às antigas indústrias movidas pela água do rio Neiva (azenhas/engenhos). O total deste percurso tem cerca 12 km.
3.4 – Bike Park
Aproveitando a implementação da já famosa pista de “Down Hill”, na freguesia de Mujães, no limite Oeste da montanha, que muita adrenalina tem trazido à região nos últimos anos, e cuja edição nº 5 ocorreu recentemente, estamos a tentar liderar o projecto de um parque com o objectivo de criar condições para desportos ligados às bicicletas. Além da pista já existente, com cerca de 1400 metros, partindo do Alto dos Marcos e descendo pela encosta Sul até Mamua, espera-se também criar uma para a prática de BTT, dando assim oportunidade aos praticantes um pouco menos radicais.
3.5 – Rapel
Embora de momento não tenha aparecido ninguém com conhecimento ou interesse nesta modalidade desportiva, fica aqui lançada a sugestão para se avaliar 7
dois ou três pontos com prováveis condições da prática de rapel. Estes pontos, são afloramentos graníticos com grande evidência e encontram-se no maciço Ocidental da Padela:
- o primeiro localiza-se ao centro da vertente Sul, junto ao proposto “Trilho da Vacaria”, que mais parece uma “varanda” sobre o vale;
- o segundo, e de maiores dimensões, está localizado num vale 300 metros a Sul da Capela de Stª Justa;
- o terceiro encontra-se bastante mais a baixo, a 300 metros a montante da represa dos Carvalhos (Carvoeiro) entalado no encontro das linhas de água do Requeirão da Padela e do Rio Covo. Mesmo não sendo próprio para a prática de Rapel, este ponto merece uma visita pela espectacular cascata aí existente, principalmente no Inverno ou depois de grandes chuvadas, e para visitar o primeiro moinho de rodízio do Regato de São Paio, cujo “cubo” em granito é o maior de todo o Vale do Neiva.
4 – Acções a desenvolver
De imediato:
1 - Sugerir aos Sapadores de Carvoeiro a limpeza das infestantes (acácias) e silvados da mata de sobreiros, existentes a Sul da Casa florestal, antes que não haja alguma surpresa com os incêndios. Do mesmo modo sugerimos que se limpe todo o espaço até ao limite com a área dos baldios de Barroselas recuperando a poça ali existente e o antigo caminho que desde aqui atravessa a referida mata até à estrada florestal. E, já agora, que continuem com o excelente trabalho de desinfestação da giesta libertando as espécies mais interessantes que vão crescendo pelo meio.
2 – Sugerir, também, aos dirigentes do Conselho Directivo dos Baldios de Barroselas a limpeza total das infestantes, matos e monda de árvores que menos se enquadram na nossa região (eucaliptos, mimosas e acácias), referente à área do “Chão da Rita”.
O objectivo inicial destas limpezas seria o de deixar bem definida e visível a área livre entre o início (topo Oeste) dos baldios de Barroselas e a Casa Florestal com vista a proceder à elaboração de um projecto de reflorestação, se possível com o lote de espécies referidas nos pontos 2.1 e 2.4 desta proposta, enquadrando também as obras previstas para este espaço (Parque de Merendas e Centro de Interpretação Florestal).
3 – Aproveitar a campanha “Plantar Portugal” para angariar a quantidade que for possível de árvores para plantar nas áreas que estarão mais preparadas para as receber dentro daquilo que está previsto na presente proposta (Alto dos Marcos, pista de down hill, valetas dos caminhos florestais, etc). Esta distribuição também depende da lista das espécies disponíveis a facultar pelo Gabinete Técnico Florestal.
A curto e médio prazo:
1 – Dentro dos possíveis tentar eliminar ou diminuir as infestantes.
2 – Promover a plantação de árvores aproveitando todos os programas disponíveis das diversas instituições nesta área. Poder-se-ia até, e quando a quantidade de árvores justificasse, planear um programa de plantação global, envolvendo toda a comunidade, por forma a que as pessoas sintam que a floresta é de todos e também têm ali uma árvore (ou mais) que é sua.
3 – Seria muito interessante e até imprescindível criar um espaço num terreno com as condições próprias para o funcionamento de um viveiro onde se pudesse reproduzir não só as espécies autóctones mais comuns mas também 8
recuperar aquelas que estão em declínio ou mesmo em risco de extinção (Ilex aquifolium, Prunus lusitanica, Taxus bacata, etc).
4 – Promover programas de sensibilização:
- da defesa da floresta e prevenção de incêndios junto da população em geral e escolar em particular, a exemplo da acção promovida recentemente pela junta de freguesia de Barroselas.
- incentivando a população a frequentar a montanha implementando os trilhos aqui propostos. Somos da opinião que quanto mais a montanha estiver “acompanhada” (com respeito e ordem), menos os prevaricadores criminosos se sentirão à vontade.
5 – Promover programas de vigilância permanente entre os meses de Junho e Setembro. Por exemplo: fazer escalas de serviço inter-associativas, com a ocupação dos tempos livres dos jovens estudantes e com a organização de campos de trabalhos nacionais ou internacionais.
6 – Sensibilizar os pastores, principalmente de caprinos, maioritariamente da região de Carvoeiro, por forma a que se estudem estratégias para se seleccionarem os espaços mais indicados para o pasto, protegendo assim as espécies em crescimento.
5 – Parcerias e apoios
Obviamente que esta proposta é um resumo de ideias que não foi elaborado para nenhuma instituição ou grupo em particular mas sim para toda a sociedade que envolve este espaço incluindo associações, instituições e organismos públicos. É também nossa intenção concentrar todos os esforços no mesmo objectivo: reflorestar e promover a Padela. Assim sendo, e porque temos consciência das nossas limitações técnicas e até legais, gostaríamos de ver envolvidas nesta parceria as seguintes entidades:
- Serviços Florestais de Viana do Castelo (Autoridade Florestal Nacional)
- Gabinete Técnico Florestal da C.M. Viana do Castelo
- CMIA – Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental
- Associação Florestal do Lima (ZIF)
- Sapadores dos Baldios de Carvoeiro
- Conselho Directivo dos Baldios de Barroselas
- Junta de Freguesia de Barroselas
- Junta de Freguesia de Carvoeiro
- Junta de Freguesia Mujães
- Junta de Freguesia de Portela de Susã
- Associação Desportiva de Barroselas – Secção BTT
- Escuteiros (Barroselas/Mujães/Carvoeiro)
- Escolas das região (Barroselas/Mujães/Carvoeiro/Portela de Suzã)
- Outras Colectividades e Agentes Turísticos da região 9
Notas finais:
Tem-se apostado nas resinosas e eucaliptos para rentabilizar a floresta quase sempre com o objectivo do lucro rápido, mas, embora demore alguns anos mais, pode conseguir-se rentabilizar ainda mais com as nossas espécies nobres, como o castanheiro e o carvalho, com uma vantagem: é que estas espécies depois de cortadas voltam a auto-regenerar-se. Senão, é ver como fazem os nossos vizinhos galegos: cortam os castanheiros a cerca de um metro de altura e dali a alguns anos o mesmo tronco serve de base a mais madeira para comercializar.
Há ainda outras espécies que também são rentáveis e de crescimento razoavelmente rápido. O exemplo disso é o choupo, principalmente a variedade Populus tremula, cuja madeira é muito utilizada no fabrico de quinquilharias, utilidades e até na indústria de mobiliário, com a vantagem de também se auto-regenerar após o corte. É difícil de compreender porque razão os industriais deste sector são obrigados a recorrer à madeira de pinho (mais perecível) como matéria prima, por escassez da madeira de choupo. Não vivêssemos nós numa região com condições excepcionais para o desenvolvimento desta espécie. Seria só uma questão de boa vontade política e de um bom plano de ordenamento florestal que, desde o período do Estado Novo, parece nunca ter existido.
Naturalmente que a concretização de uma proposta de projecto ambiciosa como esta pode parecer inatingível, quer no que diz respeito à promoção da montanha propriamente dita e seus recantos quer na aposta da reflorestação. Não obstante, alguém tem que “lançar as primeiras sementes”. E, se conseguirmos, mesmo que lentamente, implementar parte desta lista, principalmente no que se refere à floresta, reforçando as espécies de folha caduca e diminuindo as resinosas, dentro de alguns anos (uma década) reduziríamos substancialmente os riscos de incêndios. Por conseguinte, deixaríamos um legado muito importante aos nossos descendentes, os quais, fazemos questão de envolver neste projecto, para bem do seu futuro.
Raimundo Castro / André Silva
Padela Natural – Associação Promotora
Outubro/2010